Afinal, como funciona a terapia cognitivo-comportamental (TCC)?
Se você está procurando por um psicólogo, é comum que fique em dúvida sobre o funcionamento das diversas abordagens de psicoterapia. Cada um desses referenciais teóricos tem um modelo diferente para explicar as questões humanas.
Desenvolvida pelo médico estadunidense Aaron Beck, a TCC é uma abordagem de terapia eficaz para uma ampla gama de condições – como, por exemplo, os transtornos de ansiedade e a depressão.
Ela se baseia no conceito de que são nossas interpretações dos eventos que produzem nossas respostas emocionais e comportamentais. Ou seja, devemos estar atentos aos pensamentos que temos nos diferentes eventos do nosso cotidiano.
Neste artigo, você vai entender melhor como funciona a terapia cognitivo-comportamental. Explicarei o que é a TCC, suas características, e como ela acontece na prática. Vamos lá?
O que é a terapia cognitivo-comportamental?
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma abordagem de psicoterapia desenvolvida pelo psiquiatra estadunidense Aaron Beck, entre os anos 1960 e 1970.
Seu conceito central é chamado de modelo cognitivo. Segundo ele, as nossas respostas emocionais e comportamentais são influenciadas pela maneira como interpretamos os eventos.
Nas palavras de Beck, não são as situações em si que determinam o que as pessoas sentem e fazem, mas sim como elas interpretam esta situação.
Podemos esquematizar o modelo cognitivo da seguinte maneira:
Situação ou acontecimento
↓
Pensamentos automáticos
↓
Reações (emocional, comportamental e fisiológica)
Dessa forma, as reações das pessoas sempre ficam mais claras, depois que entendemos o que elas pensaram a respeito de um determinado evento.
Como funciona a terapia cognitivo-comportamental?
Na lista abaixo, separei alguns aspectos importantes do funcionamento da TCC. Confira-os:
- Colaboração;
- Conceituação;
- Plano de tratamento individualizado.
Entenda em detalhes como funciona a terapia cognitivo-comportamental:
1. Colaboração
A TCC é uma terapia colaborativa, isto é, terapeuta e paciente estão constantemente trabalhando juntos.
Nas primeiras sessões, o psicólogo investiga as diferentes áreas da vida do paciente, entendendo suas principais dificuldades. Em seguida, são estabelecidos objetivos para o processo terapêutico.
Assim, a cada sessão, são dados pequenos passos em direção a esses objetivos, estabelecidos pelo paciente.
2. Conceituação
Ao longo desse processo, a dupla também desenvolve colaborativamente uma conceituação das questões trazidas pelo paciente.
Isto é, o paciente entende seus padrões de pensamentos e comportamentos, e a ligação deles com suas dificuldades atuais. É como se ele identificasse as “lentes” através das quais observa o mundo, notando certas regularidades.
Uma parte importante deste percurso é entender quais foram as experiências decisivas para a formação destes padrões de pensamentos e comportamentos. Os significados que damos automaticamente aos acontecimentos guardam relação com as nossas vivências, em especial, ao longo da nossa infância e adolescência.
Vários fatores influenciam este processo, como nossas relações familiares e escolares, a cultura, gênero, raça e orientação sexual, por exemplo.
Como você pode notar, o modelo da TCC enfatiza a colaboração, a descoberta e a participação ativa.
3. Plano de tratamento individualizado
Com esta conceituação em mãos, terapeuta e paciente pensam em conjunto em estratégias para lidar com as dificuldades apresentadas.
Também são levados em consideração os pontos fortes e os valores do paciente – aquilo que traz significado e propósito para a sua vida.
De acordo com as dificuldades, o terapeuta também propõe técnicas específicas para trabalhar nas sessões. As intervenções são baseadas em modelos que apresentem evidências empíricas de eficácia para aquela questão em particular.
Como é uma sessão de terapia cognitivo-comportamental?
No início de cada sessão de TCC, terapeuta e paciente definem os assuntos específicos que vão trabalhar naquele dia.
Em geral, é comum que eles tenham relação com os objetivos que levaram o paciente à terapia.
Depois de decidirem os temas daquela sessão, os dois partem para o trabalho em si. As questões trazidas pelo paciente são conceituadas – ele entende seus pensamentos, emoções e comportamentos.
Com frequência, o psicólogo faz perguntas para entender melhor os pensamentos de seu paciente, estimulando a curiosidade deste.
Por exemplo:
- Quais experiências, ao longo da sua história de vida, foram importantes para te levar a pensar do modo como você pensa?
- Existem maneiras diferentes de olhar para uma situação específica?
- Você poderia fazer algo diferente nesta situação?
Portanto, é um trabalho em equipe a cada sessão, de modo que o paciente pode conhecer melhor o seu funcionamento, e também empregar ferramentas para lidar de outras maneiras com os acontecimentos de seu cotidiano.
Qual o objetivo principal da terapia cognitivo-comportamental?
O principal objetivo da terapia cognitivo-comportamental é que o paciente se torne seu próprio terapeuta.
Ou seja, com a terapia, ele pode desenvolver recursos e habilidades para lidar com as suas dificuldades, de modo que as sessões se tornem progressivamente mais dispensáveis.
Assim, o paciente entende o seu funcionamento atual, que o levou a buscar ajuda, e também estabelece maneiras diferentes para lidar com as situações, produzindo outras respostas emocionais.
Para quem é indicada a terapia cognitivo-comportamental?
Qualquer pessoa pode fazer terapia cognitivo-comportamental. Se você está enfrentando dificuldades no seu dia a dia, a psicoterapia é uma forma de obter uma ajuda especializada, a fim de desenvolver maneiras para lidar com estas questões.
Um dos princípios da TCC é de que ela seja culturalmente adaptada e também que adapte o tratamento ao indivíduo. Desse modo, o terapeuta cognitivo-comportamental terá a preocupação de adaptar o formato da terapia àquele paciente específico.
Quais transtornos a TCC trata?
De acordo com o livro “Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática”, de Judith Beck, até o momento, mais de 2.000 estudos científicos demonstraram a eficácia da TCC para uma ampla gama de transtornos psiquiátricos, problemas psicológicos e problemas médicos com componentes psicológicos.
Diversos estudos também mostraram que a TCC auxilia a prevenir ou reduzir a severidade de episódios futuros.
Entre os transtornos para os quais a TCC se demonstrou eficaz, estão:
- Depressão;
- Transtorno de ansiedade generalizada (TAG);
- Transtorno de ansiedade social;
- Transtorno obsessivo-compulsivo;
- Transtorno do pânico; entre outros.
Referências consultadas
- Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática – 3ª edição, de Judith Beck;
- Conceitualização de casos colaborativa, de Willem Kuyken, Christine A. Padesky e Robert Dudley.
Espero que você tenha gostado deste artigo, que fala sobre como funciona a terapia cognitivo-comportamental. Continue neste blog, e veja mais textos sobre saúde mental.